Cerveja com chocolate dá certo, sim

Por Sady Homrich, baterista da banda Nenhum de Nós, Engenheiro Químico especialista em Cerveja e consultor da Rasen Bier, primeira cervejaria artesanal de Gramado, além de colunista das edições impressas da Revista da Cerveja.
A harmonização com bebidas tem crescido muito nos últimos anos e a cerveja vem ganhando um espaço que até então era exclusividade dos vinhos e destilados. Com isso, estamos sempre buscando uma experiência nova ao combinar bons pratos com cervejas de qualidade. Queijos, carnes grelhadas, frutos do mar e sobremesas fazem uma grande parceria com diversos estilos da bebida. E por que o chocolate ficaria de fora?

Sabemos que o vinho não é uma das melhores companhias para a maior parte dos chocolates, exceto os vinhos fortificados, como Porto, Xerez e Madeira, entre outros. Com cerveja, a história é diferente. Está achando estranho? Pois saiba que eles têm mais semelhanças do que se imagina, afinal ambos são produtos fermentados. A base do chocolate é a amêndoa do cacau, que é fermentada, tostada e moída para então ser misturada com os demais ingredientes.

Existem três tipos de harmonização: por semelhança, contraste e corte. A por semelhança é baseada na combinação com percepções básicas de acidez, doçura, tostados, aromas frutados, florais ou herbais. Já a por contraste consiste no equilíbrio de elementos que contrastam entre si, como acidez e doçura, picância e refrescância, amargor e doçura, robustez e leveza. Por fim, a harmonização de corte acontece quando os elementos da cerveja quebram algumas das propriedades do alimento harmonizado. Um exemplo disso é quando uma cerveja “limpa” o paladar, seja depois de um queijo ou de um chocolate.

A dica para uma combinação perfeita é deixar o doce derreter um pouco na língua e sorver uma porção pequena de cerveja, formando um creme. E não precisa ter um paladar treinado para sentir aromas e sabores. A única regra é experimentar sempre. Quem decide se ficou bom é você!

A versão branca é a mais doce e macia entre os chocolates, produzida apenas com manteiga de cacau, derivados do leite, essência de baunilha e açúcar. Por não conter o cacau puro, não tem amargor perceptível. Ao serem combinados com cervejas com malte tostado, como as que tem o estilo Dunkel, geram um terceiro sabor que remete ao doce de leite. Outra boa pedida é a Strong Golden Ale.

O chocolate ao leite é o mais popular no Brasil. Uma proporção entre 30 e 40% de equilibra o amargor com os derivados de leite e açúcar, o que resulta em um paladar adocicado, porém equilibrado, com textura macia e firme. Aqui, sugiro uma combinação com o estilo Ambar Ale, com seu aroma frutado, com médio corpo e leve amargor, combinando com as notas de baunilha do chocolate. Tente também vale tentar com uma Pilsen.

Já o meio amargo é a variedade mais intensa. Com teor de cacau bem mais alto, que pode passar de 80%, este tipo de chocolate tem amargor mais pronunciado e pungente, onde percebe-se a complexidade da amêndoa fermentada e tostada. Para combinar, nada melhor que cervejas com mais corpo e notas de torrefação intensas, como as de Chocolate ou até uma Stout.
Abraços do Burgomestre!

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado.

*