Cerveja e Mercado — Qual o tamanho das cervejarias medianas?

Por Richard Westphal Brighenti, beer sommelier, sócio e cervejeiro da Lohn Bier (SC).

Eu preciso me adaptar com a ideia de continuar escrevendo. Estou colunista aqui na Revista da Cerveja por ocasião de um texto que escrevi anteriormente sobre precificação de cervejas e julguei digno de mostrá-lo para mais pessoas.

O convite surgiu e vou seguir escrevendo aos meus cinco leitores fixos. Portanto, ao contrário do texto anterior, este artigo é temporal, fala de algo que faz sentido ao que está acontecendo agora. Escolhi escrever sobre tamanho de cervejarias.

Dois motivos me trouxeram à ideia. Primeiro: mais pessoas estão usando nos seus vocabulários a expressão “tamanho mediano”, medindo em uma régua que pode ser diferente para todos. Quando fiz o curso de sommelier, uma das conclusões que tive foi justamente atribuir vocabulário para sensações que sentia sem teorizá-las.

Segundo: o Concurso Brasileiro de Cervejas vai premiar em 2019 separando as cervejarias pelo seu tamanho em “pequeno porte”, “médio porte” e “grande porte”. Porém, o tamanho de cada tipo de cervejaria não foi definido pelo Regulamento 2019, ao que sabemos será ajustado apenas depois que
encerrarem as inscrições. Faz sentido — eu mesmo não tenho ideia de qual volume possuem as cervejarias que conheço, ou mesmo se o critério seja outro.

O conceito de mediana que trago para refletir é tamanho, não o seu êxito. São quase 900 plantas cervejeiras inscritas no Ministério da Agricultura (Mapa) no final de 2018 e um outro número muito maior de cervejarias ciganas (números ciganos jamais auferidos, pois as empresas possuem código CNAE os mais variados possíveis).

Vou soprar um número aqui, baseado em minhas andanças pelo Brasil, onde ouvi falar em mais de 200 ciganas só na cidade do Rio de Janeiro, ou 20 ciganas na cidade de Caxias do Sul/RS. Posso citar 15 ciganos catarinenses que já passaram ou continuam apenas na Lohn Bier em Lauro Muller/SC. Sem medo de errar, já extrapolou o número de 1,5 mil cervejarias ciganas no Brasil. No intervalo entre minha escrita e a sua leitura, provavelmente esse número tenha aumentado.

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No primeiro concurso organizado pela Abracerva, no qual tenho ajudado como Conselheiro Fiscal, o edital separou as cervejarias para a premiação em três formas: cervejarias, cervejarias ciganas e brewpubs. A natureza da operação era no seu conceito, não dando margem para discussão.

Também em recente publicação de estatísticas no site da Abracerva, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foi fonte para muitos números, e a Abracerva separou as cervejarias (fábricas) em apenas dois tamanhos: pequenas, com até 99 funcionários, e grandes, com 100 ou mais funcionários. As estatísticas são ótimas e podemos obter inúmeras leituras a partir delas.

Porém, separar empresas pelo número de funcionários é um tanto quanto perigoso, pois, com recentes formas de contratação de mão de obra, podendo terceirizar a atividade que não seja fim, uma empresa pode ser grande e estar em outra margem na estatística. Certamente 100 ou mais funcionários abrange uma cervejaria grande, mas 99 funcionários não deixa de continuar grande.

Quando a cervejaria é muito grande ou muito pequena, não há discussões ou dúvidas. Os números da discórdia acontecem mesmo nas linhas de corte. Nas pequenas cervejarias, tenho observado um número quase unânime na estatística, a cada três mil litros de produto as cervejarias geram um emprego, e este número destoa completamente das grandes cervejarias.

A separação em três categorias de tamanho será uma tarefa inédita. Não é minha torcida, mas a fronteira entre um range e outro de categoria sempre gerará discussões, principalmente ao se comparar duas cervejarias parecidas no marketing, mas distintas no tamanho.

Talvez a fórmula consiga ser mais assertiva se usar pesos para variáveis. Por exemplo, o número de funcionários tendo um peso e o volume produzido, outro. Há situações ainda mais excepcionais, como, por exemplo, uma cervejaria nova e com estatísticas de volume embaçadas, com sazonalidades de meses, fábrica que recebe em sua maioria volume para ciganos, etc.

Pois, até outubro de 2018, eram 156 novas fábricas produtoras. Mas cervejarias ciganas e até brewpubs por vezes não possuem registro de funcionários, por vezes apenas o dono da marca administra todo o negócio, e ainda existem ciganas maiores que a própria cervejaria que a produz.

 barris-de-cerveja-de-barril-de-aluminioMas por que é importante criar conceitos? A intenção de categorizar as empresas é totalmente louvável e compreensível. O Festival Brasileiro da Cerveja, de Blumenau/SC, e o Concurso Brasileiro de Cervejas sempre foram muito importantes para o mercado brasileiro de cervejas, sempre geraram muitas estatísticas, congregaram a imprensa e trouxeram um público cada vez mais adepto e formador de opinião.

Essa pluralidade de formatos de cervejarias só revela o quanto é confuso o mercado de cervejas, e, por favor, isso não é uma crítica — o objetivo de concursos é justamente o contrário, destacar empresas que fazem um trabalho digno e louvável.

Conversando com inúmeras pessoas ligadas ao mercado cervejeiro, posso destacar uma fala que julgo importante neste momento: “Sentimos falta de dados reais. Temos uma estimativa de cervejarias que abrem seu CNPJ, mas não temos um dado real, de onde estão produzindo, o que estão produzindo. Isso é essencial para a gente configurar nosso mercado, fazê-lo crescer, ter estatísticas reais”, destaca Amanda Reitenbach, diretora do Science Of Beer e manager do Concurso Brasileiro de Cervejas em Blumenau.

Vamos tentar responder ao título da matéria. Qual o tamanho das cervejarias medianas? A minha resposta pessoal será bem evasiva: eu acredito trabalhar em uma cervejaria mediana e que nasceu pequena, mas não tenho ideia do momento de transição.

Como veem, não trago respostas, ainda que seja muito importante continuar entendendo o nosso mercado. Precisamos enxergar muito além do rótulo, mas, inegavelmente, os rótulos permeiam hábitos, e hábitos moldam nosso comportamento.

Esse texto é pequeno, conteúdo mediano e trouxe uma grande discussão. Melhor parar de ler e abrir uma cerveja. Viva a cerveja artesanal brasileira! Saúde!

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