Coordenadora do Núcleo da Diversidade da Abracerva fala sobre o Pride Day

Texto: Andréia Ramires | Foto: Reprodução

Hoje, 28 de junho, é comemorado o Dia do Orgulho LGBTQ+, data criada no fim dos anos 1960 nos Estados Unidos, e uma das últimas novidades da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva) foi a criação do Núcleo da Diversidade. O objetivo é promover debates, diversificar o perfil do consumidor e intervir contra a homofobia, machismo e racismo no meio cervejeiro. Por isso, convidamos a coordenadora do núcleo, Nadhine França, para um rápido bate-papo sobre o assunto.

1. Você pode brevemente se apresentar e contar um pouco sobre o seu envolvimento com o meio cervejeiro?

Meu nome é Nadhine França, sou recifense, 34 anos, analista de sistemas e cervejeira caseira desde 2014. A relação com a cerveja começou como hobby, mas tem tomado, a cada dia, mais espaço e dedicação. Hoje sou sommelier de cervejas, coordenadora do Instituto da Cerveja Brasil (ICB) em Pernambuco, faço parte da Diretoria da Acerva – PE, Diretoria da Confraria Feminina Maria Bonita e mais recentemente coordenadora do Núcleo de Diversidade da Abracerva.

2. Noticiamos recentemente aqui no site da Revista da Cerveja que a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) lançou o Núcleo da Diversidade, do qual você é coordenadora. Qual a importância dessa iniciativa?

A criação do Núcleo de Diversidade da Abracerva deve atuar nas questões diretamente associadas ao tratamento igualitário e a representatividade dentro da instituição, promover e fomentar diversidade na comunidade de cervejarias artesanais independentes, incluindo cervejarias, cervejarias ciganas, atacadistas, fornecedores de matérias-primas, varejistas e parceiros. Há uma necessidade latente do setor entender que não vai crescer se continuar fazendo um produto de nicho. É preciso não compor suas equipes de maneira mais diversa para estimular inovação, mas pensar na diversidade dos seus clientes. Para isso precisamos também profissionalizar pessoas que representem essa diversidade. A representatividade é o melhor caminho para consolidar a cerveja artesanal independente de maneira democrática.

3. Que ações o Núcleo da Diversidade pretende tomar em relação às minorias?

Estamos fazendo uma série de lives sobre diversidade, para dar voz e escutar as dores, identificar alguns dos problemas de maneira qualitativa, depois disso vamos realizar uma pesquisa mais formal para ajudar nessa identificação com a pesquisa quantitativa, estabelecer metas e marcos para verificação da evolução do planejamento das medidas adotadas para minimizar a problemática.

4. Já que estamos no dia do Pride Day, como você vê o público LGBTQ+ no meio cervejeiro?

Eu não o vejo. O público da cerveja artesanal ainda é majoritariamente branco, masculino e de classe média, centrado no eixo sul-sudeste. O que não podemos deixar acontecer é que se torne um meio exclusivista. Entendo que muitos do meio podem não assumir ou adotar posturas mais reclusas por receio da reação, mas estamos num tempo em que o posicionamento é muito importante. Precisamos de mais lugares e eventos cervejeiros onde o público LGBTQIA+ possa se sentir claramente acolhido, não apenas onde vai ser bem tratado, mas lugares onde homofobia é visto como crime, que é o que deve ser.

5. Que mensagem você deixa para as pessoas que podem não se sentir representadas no mercado das cervejas artesanais?

No começo eu também não me sentia representada. A sensação de não-pertencimento pode ser sufocante às vezes. Mas tomei forças para ocupar esse espaço e ser parte da representatividade necessária para que o mercado de cervejas artesanais seja mais diverso. Espero de verdade que com a criação do núcleo, mais pessoas percebam que existe gente com essa preocupação dentro do meio, sinta-se à vontade para entrar e ocupar cada vez mais espaço tornando a comunidade cervejeira mais diversa.

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