Caropreso com cerveja: na trilha da independência

Por Luiz Caropreso, sommelier de cervejas, professor pela Doemens Akademie e diretor da BeerBiz – Cultura Cervejeira.

Olá, meus amigos cervejeiros e súditos do duque Wilhelm IV.

Há poucos dias foram anunciadas as premiações do World Beer Awards 2017. Para mim, e acredito que para muitos de vocês, não foi nenhuma surpresa o sucesso que as cervejarias “brazucas” alcançaram. Na minha visão, o Brasil está se consolidando como um dos principais polos cervejeiros do mundo. Já faz alguns anos que assumimos o posto de 3° maior produtor mundial. Estamos atingindo a marca de 500 cervejarias registradas instaladas no país e, se colocarmos nessa conta os cervejeiros caseiros, tenho certeza de que atingiremos a casa dos milhares. Junte-se a isso o extremo talento, criatividade, competência e paixão de nossos cervejeiros e podemos começar a entender os motivos desse sucesso. Imaginem como seria se nosso país não estivesse nesta barafunda de corrupção, motivada por uma corja que só pensa em seus interesses particulares! Empreender neste país é uma missão para verdadeiros heróis.

Mas vamos à proposta desta coluna. Como estamos na semana da pátria, selecionei cinco cervejas laureadas no WBA 2017 como as melhores do país nas categorias em que concorreram.

                  

 

Votus 003 Doppelbock na categoria Strong Lager

Uma surpresa para quem espera o convencional em uma Doppelbock – extremo dulçor. Esta cerveja, elaborada pela Cervejaria Votus em Diadema/SP, foge da regra, apresentando-se menos doce e mais seca, com poderosos 8,5% de teor alcoólico. Exala aromas de malte, cereais, caramelo, algum tostado, além de café e chocolate amargo. Vai muito bem com doces à base de chocolate. Fiz um creme de ovos com ela que ficou divino (aguardem a receita no meu livro, “Receitinhas para você: cervejas”, que será lançado em outubro). Quer ser mais ousado? Experimente com carnes de caça bem untuosas.

 

 

Hausen Bier Dunkel na categoria Dark Lager

A Hausen Dunkel é produzida pela Hausen Bier na cidade de Araras/SP, uma cervejaria que se orgulha de seguir a Lei de Pureza da Baviera, utilizando apenas maltes, água, lúpulo e levedura em suas receitas. Esta cerveja escura e encorpada apresenta notas tostadas, com algum café, caramelo e chocolate, é muito leve e tem apenas 4,7% ABV, oferecendo excelente drinkability. Levemente amarga e com final seco, vai muito bem com charcutaria artesanal, como presunto cru ou defumado, fuet, salame, chouriço e queijos como gouda e gruyère.

 

 

Cevada Pura Irish Red Ale na categoria Amber Lager

Capriche na taça, pois, visualmente, a cerveja se apresenta linda, com um brilhante tom avermelhado. Esta Irish Red Ale é produzida pela Cevada Pura em Piracicaba/SP, uma cervejaria inaugurada em 2001 focada na venda de chope em barril e que acaba de conquistar nove medalhas no WBA em Londres. Traz o que se espera de uma legítima Irish Red Ale de 4,5% de teor alcoólico, com notas de caramelo, malte e algum tostado, muito bem temperados por um herbal advindo de dry hopping com lúpulos ingleses. Harmoniza assertivamente com grelhados de carnes magras, boeuf bourguignon e, como sobremesa, Tarte Tatin, cheia de maçãs e caramelo.

 

 

Dama Fellas na categoria Flavoured Beer Chocolate & Cofie   

Imaginem uma Imperial Black IPA feita com café! De onde viriam os amargos mais agradáveis? Dos torrados do café ou dos lúpulos? É algo assim que a gente sente quando degustamos a Fellas. Produzida na planta da Dama Bier em Piracicaba/SP, essa cerveja de poderosos 9% ABV e 90 IBU contou com a colaboração da Süd Brau (RS) e da Bodebrown (PR) e foi “batizada” como uma Imperial Coffe IPA. Se vocês sentirem notas cítricas e picantes, não é loucura. Eles utilizam café 100% Arábica ainda verde, que traz esses sabores. Combina bem com mole poblano (molho que leva chocolate, vários condimentos e pimentas para acompanhar carnes de aves) e tiramisù.

 

 

Lohn Bier Carvoeira na categoria Flavoured Beer Herb & Spice

A Lohn Bier de Lauro Müller/SC se juntou com a Random/Drei Adler e criaram a Carvoeira, uma Imperial Stout de 9,5%, feita com lúpulos ingleses, grãos brasileiros e que ainda leva na receita funghi secchi, que traz notas defumadas e umami, além de cumaru, a “baunilha da Amazônia”. Podem ter certeza que na degustação irão se destacar aromas como café, chocolate e, como já disse, baunilha e defumados. Para harmonizar, vamos ousar com um papillote de cogumelos shitaki e shimeji na manteiga e sobremesas cremosas à base de baunilha, café ou chocolate.

 

 

Quero aproveitar e parabenizar a todas as cervejarias premiadas, parafraseando Affonso Celso, em seu livro do início do século XX: “porque me ufano de meu país”.  Vocês são motivo de orgulho e ufanismo para todos que trabalham em prol da cerveja no Brasil.

Até o próximo mês!

 

 

 

 

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