Fermentando a web

Em (não tão) longínquos anos 2000, quem queria se aventurar no meio cervejeiro pela primeira vez ou ficar por dentro das novidades do segmento não tinha muito a que ou a quem recorrer. Os blogs, sites e publicações digitais eram escassos, e o mercado produtor de cervejas artesanais brasileiro dava seus primeiros passos — muito embora este último tenha iniciado em meados de 1990.

Se o quadro hoje é promissor, e as informações são encontradas com maior facilidade que há alguns anos, agradeça aos blogueiros entusiastas de cerveja. Foram eles que na década passada abriram caminho para a difusão da cultura cervejeira no meio on line. Em 2011, organizaram-se num grupo intitulado Blogueiros Brasileiros de Cerveja, que, dentre outras ações, divulga campanhas e opiniões sobre o assunto. A organização conta com membros em todo o país, dentre eles o beer sommelier José Raimundo Padilha, o jornalista Raphael Rodrigues e o chef Guilherme Schwinn.

Há quem os chame de “beer evangelistas” por disseminarem o gosto pelas brejas especiais e tentarem, invariavelmente, atrair novos adeptos ao vasto universo das cervejas além da “loira estupidamente gelada”. Mas deixando os rótulos de lado, os blogueiros de cerveja, sem dúvida, têm desempenhando papel fundamental na divulgação da cena cervejeira mundo afora. Pensando neles que, durante os próximos meses, publicaremos entrevistas feitas com alguns desses personagens.

Para abrir esta série especial, nada mais justo que trazer um profissional que se destacou em 2015 no mundo da sommelieria. Eleito o melhor beer sommelier do país pelo Campeonato Brasileiro, Gil Lebre Abbade administra o blog A Perua da Cerveja e a irreverente página Beer Foot Lovers, no Facebook e Instagram.

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Versátil. De maneira genérica, essa pode ser a palavra que defina todo bom blogueiro. Gil Lebre Abbade Franco, 32 anos, não é exceção: administra o blog A Perua da Cerveja, além das páginas Beer Foot Lovers, no Facebook e no Instagram. Obviamente não para por aí — natural de Niterói, Rio de Janeiro, ele é despachante documentalista no âmbito sanitário, homebrewer, beer sommelier e mestre em estilos formado pelo Instituto da Cerveja Brasil. Em março deste ano, venceu o Campeonato Brasileiro de Sommelier de Cerveja, já se classificando para a etapa mundial, que ocorre pela primeira vez em solo tupiniquim, durante o Degusta Beer & Food, em julho.

A trajetória da “perua”

Gil começou a se aventurar no mundo dos sabores e aromas da cerveja em meados de 2007, ao experimentar uma de trigo da cervejaria alemã Erdinger. De lá pra cá, as descobertas foram desencadeando o desejo de conhecer novos rótulos, e ele teve uma espécie de epifania — aquele momento em que tudo faz sentido; queria experimentar “tudo que encontrava no mercado”, conta . Como a parada para comprar novidades ou aproveitar promoções era inevitável, foi apelidado de “perua” por um amigo — o que seria uma alusão ao impulso de algumas mulheres para compras, em liquidações de roupas e sapatos. Na época considerada engraçada por Gil, a brincadeira, de que só mulheres gostam de promoções, deu nome a seu blog, A Perua da Cerveja, criado em setembro de 2012. Mas hoje ele já percebe a piada como sendo “boba e machista”, e sinaliza que o projeto será reformulado em breve: “A ideia é transformá-lo em site, mais moderno e com postagens mais frequentes. Aguardem novidades!”, avisa.  Além d’A Perua, escreveu também para o site Homini Lúpulo e para o blog da loja virtual Puro Malte.

A PERUA DA CERVEJAVitrine das novidades cervejeiras

Em suas postagens, Gil costuma divulgar eventos, lançamentos de rótulos, dicas sobre viagens nacionais e internacionais e análises sensoriais. Enfim, “qualquer assunto ligado ao meio cervejeiro pode virar postagem”, afirma. Para ele, os blogs são a vitrine do setor — e como tal, são tanto a porta de entrada de muitos que querem iniciar neste fermentado universo, como também podem ser uma boa fonte de pesquisa para quem é mais experiente. Como blogs difusores de novidades, ele destaca o Bar do Celso e o All Beers, e como gerador de conteúdo, cita O Cru e O Maltado, “é o melhor do Brasil, com textos ricos e profundos”, elogia. Gil acrescenta ainda que o poder de divulgação da cultura cervejeira pelos blogs é potencializado com o uso das redes sociais, e que estas devem ser aliadas à ferramenta.

Cena de cervejas artesanais brasileira: inquieta e nada acomodada

O top sommelier, que ainda cultiva a produção caseira da bebida, não poupou elogios ao cenário brasileiro: “As melhores cervejarias artesanais do país não apenas acompanham as tendências, como as criam.” E, de fato, a inventividade brasileira na elaboração de receitas está, mais do que nunca, sob os holofotes do mercado mundial. Gil conta que, em função de uma maior flexibilidade dos órgãos fiscalizadores, é cada vez mais comum o uso de frutas, condimentos e insumos locais, além de “produção de rótulos na madeira, vintages”, comenta.  Se esse seria o início do sonhado estilo nacional, ele acha que ainda é cedo, mas afirma que o país está no caminho certo. Ainda no âmbito nacional, ele aponta o Festival Brasileiro da Cerveja, do qual participou pela primeira vez, como o acontecimento do ano, “com um belo panorama das tendências que o mercado nos oferecerá em 2015”, diz. Para ele, outro fato cujos olhares se voltaram este ano é a união da cervejaria mineira Wäls com a Ambev, o que “ainda é meio nebuloso e só o tempo irá dizer se foi benéfico para o meio”, finaliza.

Quer conhecer o blog d’A Perua da Cerveja? Clique aqui.

Ou vá para a nossa segunda entrevista, com Raphael Rodrigues, do All Beers.

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