Um passeio pelo Velho Mundo — Essa é a minha Bruxelas

Linus

Por Linus De Paoli, cervejeiro caseiro, Certified Cicerone®, engenheiro de desenvolvimento de veículos e guia etílico-turístico.

Resolvi roubar o bordão do Álvaro Garnero para deixar bem claro que o que vou falar é sobre a minha Bruxelas, os lugares que eu frequento, onde eu gosto de ir e não necessariamente sobre os “melhores lugares” para ir. Assim ninguém vai ficar comentando: “mas você esqueceu do bar XYZ”, “você não falou da cervejaria ABC”, etc. Táoquei?

Pronto, introdução feita, vamos a minha Bruxelas. E ela é minha mesmo. Como Bruxelas fica a um tirim de carro de Colônia, a gente acaba visitando a cidade mês sim, mês também. Desde minha primeira visita à cidade, em 1996, Bruxelas se tornou uma das minhas cidades favoritas, com sua atmosfera descontraída (tema recorrente de lugares que gosto), arte sempre presente em todos os lugares e a cerveja, claro.

Linus
Fotos: Arquivo pessoal

Chegando a Bruxelas, a primeira parada tem que ser sempre, SEMPRE, a Grand Place. No coração do centro antigo da cidade fica a praça mais bonita de toda Europa (segundo o Instituto de Pesquisas Arquitetônicas DataLinus). Nada como sentar no chão no centro da praça (se a multidão permitir) e admirar a beleza dos prédios e sua iluminação (se for à noite).

Essa praça tão especial abriga entre seus prédios a Maison des Brasseurs, casa da Associação de Cervejeiros de Bruxelas, datada do ano de 1698. Esta é sede também da ordem Chevalerie du Fourquet Brasseurs (Cavaleiros do “Garfo” Cervejeiro) e abriga em seu porão um pequeno museu sobre a nobre arte de fazer cervejas.

Perto dali, na esquina das ruas dos cervejeiros (Rue des Brasseurs) com a rua dos chapeleiros (Rue des Chapeliers), fica o bar Au Brasseur. Nada como sentar em uma das mesas do lado de fora para tomar uma clássica cerveja belga em um belo dia de sol no verão e apreciar a paisagem, geralmente composta por turistas se divertindo etilicamente pela cidade.

Na outra direção, cruzando a Grand Place e atravessando as Galeries Royales Saint-Hubert, você dá de cara com À La Mort Subite. Local maravilhoso onde, com seu interior todo em estilo Art Nouveau, você pode se deliciar com as ótimas Sours clássicas da marca que dá nome ao local. Já com ares mais boêmios e no meio de umas vielas cheias de restaurantes “pega turista” fica o beco do Delirium.

Nele, estão vários bares da marca, além do famoso Delirium Cafe, este que é parada obrigatória na cidade para todo apaixonado por cervejas. Mas não se engane, a pegada aqui é de festa, nada de ficar tomando cerveja sentado, tranquilo, cheirando copo com o dedo mindinho para cima.

Principalmente à noite, o beco fica lotado de grupos de turistas que vêm à cidade para se divertir (e se embriagar). Nada contra isso, mas é bom ajustar as expectativas à realidade. Um dos pontos positivos dessa atmosfera é que é muito fácil fazer amigos, afinal, o álcool sempre foi um ótimo lubrificante social.

Saindo um pouco do setor “turístico” do centro e caminhando ao longo do Boulevard Anspach (que virou uma bela área de pedestres nos últimos anos), você chega a uma das mecas geeks-cervejeiras da cidade, o bar Moeder Lambic Fontainas.

Nesse local, sim, você pode gastar um bom tempo analisando a carta de cervejas (de dar inveja a qualquer bar do mundo), escolhendo AQUELA cerveja para tomar e, quando esta vier, cheirar o copo à vontade antes de beber. Aproveite e poste uma foto no Instagram para fazer todo mundo morrer de inveja.

A cerca de 1 km dali fica uma das outras mecas geeks-cervejeiras na cidade, a Cervejaria Cantillon. Estar localizada em uma região um tanto quanto degradada da capital belga, onde não é incomum cruzar com moradores de rua e prostitutas, não pode te impedir de fazer a visita. Vale muito a pena. No local, a primeira sensação é de que o aroma das cervejas azedas ali feitas permeia todos os ambientes.

Quando fui a primeira vez, a vontade era de lamber as paredes da cervejaria. Mas resista à tentação, faça primeiro a visita para ver onde o mosto é produzido, resfriado e onde os barris ficam armazenados por anos enquanto a cerveja se desenvolve.

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Depois da visita, já pode ir ao bar e tomar as maravilhosas Lambic (sem blend e sem gás), Gueze e outras que só se acha no local ou com muita dificuldade fora dele. Aproveite também para comprar umas garrafas para levar para casa ou para o botoxé com a turma.

Já em uma região mais agradável da cidade, às margens do canal, você vai achar a cervejaria e tap room do Brussels Beer Project. No local, além das cervejas de linha, você encontra toda a linha experimental da casa e pode se sentar no meio do equipamento de produção enquanto as degusta.

Para encerrar o dia, o local que adoramos ir sempre é o Halles Saint-Géry. Um antigo mercado de alimentos convertido em galeria de artes com ótimos bar e lounge. Aproveite a atmosfera mais local e boêmia para relaxar e tomar algumas cervejas feitas na cidade (e algumas no próprio local) ouvindo uma música eletrônica.

E se bater aquela vontade de comer boulettes, carbonade, moules frites ou stoemp com salsicha, eu gosto mesmo é de ir no Grimbergen Cafe. Ambiente agradável, bom atendimento e boa comida. Ah… e boas cervejas clássicas belgas. Pronto, essa é a minha Bruxelas. Se gostou, de nada. Se não gostou, fique à vontade para encontrar a sua Bruxelas — tenho certeza de que vai descobrir e gostar muito dela.

>> Leia a última coluna de Linus de Paoli

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